
Prefácio
Esta
história encontra-se no "Bhagavat Purana" de
Srila Vyasadeva (3500aC) e é contada originalmente
pelo grande santo e sábio Maitreya Rishi, a quem
presto meus respeitos e por cuja graça reconto
a história sagrada de Dhurva Maharaj.
As
histórias que os sábios da Índia
antiga nos deixaram nos textos sagrados dos Puranas
fazem parte da história da humanidade que permaneceu
guardada na memória dos mestres e tem sido transmitida
de geração a geração de
mestre a discípulo.
Não
são criações da mente. Os eventos
narrados encontram-se gravados no registro etéreo
ao qual só as almas puras tem acesso e de onde
obtêm inspiração.
Tive
a extraordinária fortuna de entrar em contato
e servir a três dessas almas puras, os magníficos
devotos de Krishna e meus mestres da alma: Srila Prabhupada,
Srila Sridhar Maharaj e Srila Govinda Maharaj.
Por
pura bondade, concederam-me a fé necessária
para que pudesse encarar essas narrativas do ponto de
vista correto. Ou seja, que aquilo que está sendo
descrito é a mais pura realidade, imbuída
dos mais elevados ensinamentos morais e espirituais,
os quais, aplicados à própria vida, levam
ao destino mais elevado da alma.
Ouvir
essas histórias de uma fonte autorizada constitui-se
num processo de sintonia de nossa consciência
com essas realidades espirituais. Através de
tal sintonia com os planos mais elevados da realidade,
nossa alma pode ascender para poder vir a viver junto
aos habitantes daquele plano descrito nas histórias
védicas. Nesse sentido, estas histórias
são portais dimensionais. Ouvir com a moldura
de consciência apropriada, permitirá que
a alma do leitor seja transportada a essas dimensões
elevadas.
A
consciência mencionada é humilde, tolerante
e respeitosa diante dos mestres que nos deram acesso
ao plano da alma e à compreensão dos ensinamentos
que transmitiram.
Por
ouvir as histórias sobre as glórias, os
nomes, as características e os passatempos das
personalidades de Deus e de Seus devotos, a alma poderá
despertar para a realidade transcendental.
Esperamos
que o leitor possa abordar esta história com
as qualidades santas da humildade, tolerância
e respeito, o que permitirá que sua alma viva
para sempre nas moradas sábias e cheias de bem-aventurança
de Krishna.
Dhruva
viveu neste mundo há muitos e tantos milhares
de anos, numa época em que ninguém se
interessava em dar números ao tempo. Para nós,
é suficiente sabermos que sua era teve lugar
há milhares de anos e ficou conhecida como a
era de ouro do mundo, quando a civilização
era sábia e os seres humanos esforçavam-se
por atingir a perfeição da vida.
Naqueles
tempos, o mundo formava uma grande nação
com estados governados por reis magos e sábios
que se submetiam ao governo imperial daquele entre eles
que era aceito como o melhor de todos os reis.
Svayambhuva
Manu era o progenitor da humanidade e teve dois filhos
de sua esposa Satarupa, que receberam o nome de Uttanapada
e Priyavrata. Por serem ambos descendentes diretos de
uma expansão plenária do Senhor Supremo,
eram muito competentes para reinar sobre o universo
inteiro e manter e proteger os cidadãos.
O
rei Uttanapada acabou por se tornar o imperador do mundo,
e todos os reinos sobre a Terra viviam felizes de ter
o sábio e iluminado Utanapada como seu governante
e exemplo de dignidade e nobreza, pois ser governado
por uma pessoa altamente qualificada espiritualmente
eleva o estado de vida de todos os cidadãos.
Ele tinha duas rainhas, Suniti e Suruchi.
Suruchi, a mãe do príncipe Uttama, era
mais amada pelo Rei. Suniti apesar de ser a mãe
de Dhurva, o príncipe primogênito, não
era a favorita do Rei.
Certa
vez, o Rei Uttanapada acariciava o filho de Suruchi,
Uttama, pondo-o em seu colo. Dhruva Maharaj também
tentava subir ao colo do rei, mas o rei, distraido,
não lhe prestava muita atenção.
Quando
o menino Dhruva tentava subir ao colo de seu pai, Suruchi,
sua madrasta, entrou na sala e viu-o tentando ganhar
o colo do pai. Aquela que devia ser como
uma segunda mãe ficou possuída por sentimentos
de ciúme e inveja não muito apropriados
a alguém da nobreza, mas que sempre se manifestam
no caráter para testar as pessoas que, em geral,
mostram-se incapazes de segurar as rédeas que
controlam o eu inferior.
Os
nobres não são apenas os herdeiros sanguíneos
de algum título formal de nobreza, mas as pessoas
capazes de dominar suas paixões inferiores e
seus instintos mundanos e que decidem exibir seu melhor
carater, mantendo sob controle seu lado inferior.
Mas
Suruchi, apesar de rainha e verdadeiramente nobre, e
com certeza num momento de fraqueza, deixou-se dominar
pela inveja e pelo ciúme e, mostrando todo seu
orgulho, começou a falar para ser ouvida pelo
menino príncipe e pelo próprio rei:
"Minha
querida criança, você não merece
sentar no trono ou no colo do rei. Certamente, você
também é filho dele, mas já que
não nasceu de meu ventre, você não
está qualificado a sentar-se no colo de seu pai.
É claro que, por ser uma criança de cinco
anos, você não tem consciência de
que não nasceu de meu ventre mas do de outra
mulher. Portanto, deveria saber que seu esforço
está fadado ao fracasso. Você está
tentando satisfazer um desejo impossível. Se
realmente quiser se elevar ao trono do rei, você
terá de realizar austeridades severas. Primeiro,
precisará satisfazer a Suprema Personalidade
de Deus, conhecido também pelo nome de Vishnu,
ou Narayana, por ser o refúgio de todas as criaturas,
e, só então, você poderá
ser favorecido por Ele. Graças a tal adoração,
você obterá oportunidade de nascer de meu
ventre em sua próxima vida."
Igual
a uma serpente que respira pesadamente ao receber uma
paulada, Dhruva Maharaj, agredido pelas impiedosas palavras
de sua madrasta, começou a respirar pesado, sendo
consumido por uma ira devastadora. Ao ver que seu pai
permanecia em silêncio e não protestava,
imediatamente saiu do palácio e foi ter com sua
mãe.

Quando
o príncipe se aproximou de sua mãe, seus
lábios tremiam devido à ira que sentia
e chorava dominado por uma tristeza profunda. Enquanto
os residentes do palácio que tinham ouvido as
palavras rudes de Suruchi relatavam tudo em detalhes,
a Rainha Suniti imediatamente levantou o filho ao colo.
Suniti também sentia uma extrema mágoa
com o que ocorrera com o filho. Ela não conseguiu
tolerar este incidente e começou a arder por
dentro igual a um incêndio na floresta e, em sua
tristeza, parecia uma folha queimada e lamentava-se.
Ao lembrar as palavras de sua co-esposa, seu rosto brilhante
como uma flor encheu-se de lágrimas. Respirava
com dificuldade. Desconhecia o remédio para esta
situação tão dolorosa. Sem encontrar
qualquer solução, voltou-se para o filho
em seu colo e disse:
"Meu
filho amado, não deseje nada inauspicioso aos
demais. A pessoa que causa dor aos outros terá
de sofrer dessa mesma dor. Meu menino querido, tudo
que Suruchi disse é a pura verdade, pois o rei,
seu pai, não me considera como sua esposa, nem
como sua serva. Ele não sente qualquer atração
por mim. Portanto, é um fato que você nasceu
do ventre de uma mulher desafortunada e cresceu alimentado
por seu peito.
"Ah
meu filho, tudo que sua madrasta Suruchi disse, por
mais duro que seja de se ouvir, é a verdade.
Se desejar sentar-se no mesmo trono que seu meio-irmão
Uttama, abandone sua atitude invejosa e imediatamente
execute as instruções que sua madrasta
lhe deu. Sem perder mais um minuto, ocupe-se na adoração
dos pés de lótus do Senhor Supremo. Seu
bisavô, o senhor Brahma, adorou o Senhor Supremo
e obteve as qualificações necessárias
para criar tudo o que existe neste universo. Ele se
situa em sua posição exaltada de criador
do universo material devido à misericórdia
de Deus, quem é adorado até mesmo pelos
mestres da ioga que são capazes de controlar
os pensamentos e regular o fluxo do ar vital, ou prana.
Seu avô, Svayambhuva Manu, executou sacrifícios,
distribuiu caridade, e, portanto, com fé firme
e devoção, adorou e satisfez a Personalidade
Suprema de Deus. Agindo assim, ele obteve toda felicidade
material. Depois disso, conseguiu a liberação
dociclo de repetidos nascimentos e mortes, o que é
impossível de ser atingido por meio da adoração
a semideuses.
"Meu
menino, você também deveria buscar refúgio
na Personalidade Suprema de Deus, pois Ele é
muito bondoso com Seus devotos. Aqueles que buscam pela
liberação do nascimento e da morte refugiam-se
no Senhor, praticando o serviço devocional. Purifique-se,
executando a ocupação que o destino lhe
reservou. Situe a Personalidade de Deus em seu coração
e, sem desviar-se por um momento sequer, ocupe-se sempre
em Seu serviço amoroso. Dhruva, meu amor, tanto
quanto eu sei, não conheço ninguém
mais que possa aliviar seu sofrimento além do
próprio Deus em pessoa, cujos olhos têm
a forma das pétalas da flor de lótus.
Semideuses como o Senhor Brahma, buscam pelo prazer
que oferece a deusa da fortuna, mas ela mesma, segura
uma flor de lótus em sua mão, e está
sempre pronta a realizar serviço para o prazer
do Senhor Supremo."
Suniti instruiu seu filho Dhruva desse modo para
que ele pudesse satisfazer o objetivo de sua vida.
Depois
de considerar com cuidado e inteligência tudo
que acontecera e tudo que ouvira e com uma determinação
profunda e sólida, o príncipe Dhruva abandonou
a casa de seu pai.

O
Sábio Narada Muni
O
sábio Narada é o mestre dos mestres e
dos semideuses de todo o universo e costuma viajar de
planeta em planeta, de mundo em mundo e de uma dimensão
a outra, ora tocando refinados acordes em sua harpa
Vina para acompanhar sua meditação nas
glórias e nos nomes de Deus, ora contando histórias
sobre as glórias infinitas do Senhor Supremo,
trazendo, desse modo, luz ao coração de
todos que o ouvem.
Os
semideuses e sábios situados no mundo sutil e
subjetivo são capazes de observar tudo que acontece
neste mundo físico, apenas sintonizando sua mente.
Desde o mundo subjetivo, Narada pôde observar
o que acontecera a Dhruva. Ficou muito admirado de perceber
a natureza nobre e determinada do menino e pensou que
seria melhor convencê-lo a desistir da idéia.
Com essa idéia em mente, o mestre sintonizou
sua consciência na floresta em que Dhruva se encontrava.
O
príncipe meditava em ioga, sentado de pernas
cruzadas sobre a relva com a coluna ereta. Tinha os
olhos semicerrados, mantinha a atenção
concentrada no ponto entre as sobrancelhas e controlava
sua respiração.
Ainda
que seu corpo seja espiritual e imperceptível
aos olhos físicos, Narada usou seus poderes místicos
e tornou-se visível neste mundo material.

Narada
ficou distante por um momento, observando os traços
fortes do menino e sua feição pacífica
e determinada. Logo, tornou sua presença mais
forte, o que fez com que Dhruva abrisse os olhos, forçado
a voltar de sua meditação para o mundo
externo.
O
príncipe reconheceu o mestre espiritual de toda
sua família e, depois de reverenciá-lo
apropriadamente, ofereceu-lhe um assento.
O
grande sábio Narada, compreendendo as atividades
de Dhruva Maharaj, estava atônito. Aproximou-se
do príncipe, e tocando a cabeça do menino
com sua mão virtuosa, pensou consigo mesmo: "Quão
maravilhosos são os poderosos guerreiros xátrias.
Não podem tolerar a menor infração
a seu prestígio. Imaginem só! Mesmo sendo
apenas uma criança, Dhruva não conseguiu
tolerar as palavras rudes de sua madrasta." O grande
sábio Narada voltou-se para o príncipe
menino e disse:
"Príncipe,
você é apenas uma criancinha apegada a
brincadeiras e a outras frivolidades. Por que se sente
tão afetado por palavras que insultam sua honra?
Meu querido Dhruva, se você sente que seu sentido
de honra foi insultado, mesmo assim não tem razão
para sentir-se insatisfeito. Esse tipo de insatisfação
é outra característica da energia ilusória,
pois toda entidade viva é controlada por suas
ações anteriores, e é por isso
que existem vários tipos de vida, seja para desfrutar
ou para sofrer.
"O
processo de devoção pessoal ao Deus Supremo
é muito maravilhoso. A pessoa que é inteligente
deveria aceitar esse processo e ficar satisfeito com
o que receber por Sua vontade suprema, seja isso favorável
ou desfavorável. Agora, apenas para obter a misericórdia
do Senhor, você decidiu adotar o processo da meditação
mística, seguindo a instrução que
sua mãe lhe deu. Mas, penso que tais austeridades
são impossíveis de serem praticadas por
um ser humano comum. É muito difícil satisfazer
a pessoa de Deus.
"Depois
de praticar este processo por muitos e muitos nascimentos
e permanecendo desapegados da contaminação
material, situando-se em transe e executando muitos
tipos de austeridades, vários iogues místicos
foram incapazes de encontrar um fim para o caminho da
realização de Deus. É por isso,
meu querido pequeno príncipe, que você
deveria interromper seus esforços nessa direção,
pois dificilmente terá êxito. É
melhor que volte para casa. Quando crescer, e se receber
a misericórdia do Senhor, terá oportunidade
de realizar estas atividades místicas. Nesse
momento, poderá envolver-se nessa tarefa.
"A
pessoa deveria procurar ficar satisfeita com qualquer
condição que a vida lhe ofereça
—seja de felicidade ou de sofrimento— e que
resulta da vontade suprema. A pessoa que se esforça
desta forma é capaz de atravessar a escuridão
da ignorância com muita facilidade e jamais será
afetada pelas misérias triplas deste mundo material."
O
príncipe Dhruva ouviu a tudo com atenção.
Não estava satisfeito com a tentativa do mestre
de demovê-lo de seu intento de encontrar-se com
Deus para pedir-lhe pessoalmente que satisfizesse seu
desejo. Com as mãos juntas em respeito pelo mestre,
disse:
"Meu
querido mestre Narada, o senhor é aclamado como
o mais sábio de todos os sábios do universo,
o mestre dos mestres, o abrigo único para as
pessoas em busca da iluminação espiritual.
Para que alguém como eu, perturbado pelas condições
materiais da felicidade e do sofrimento, possa alcançar
a paz mental, tudo que o senhor explicou por sua bondade
é certamente uma instrução excelente.
Mas, no que me diz respeito, encontro-me atualmente
coberto pela ignorância, e seus ensinamentos não
comovem meu coração.
"Ó
mestre, sou muito imprudente ao não ser capaz
de aceitar suas instruções. Mas veja que
nasci numa família de santos guerreiros da casta
dos xátrias e que são muito determinados
em seus objetivos. Minha madrasta, Suruchi, trespassou
meu coração com suas palavras impiedosas.
Portanto, sua instrução valiosa não
é capaz de comover meu coração
endurecido.
"Ó
brâmane erudito, desejo ocupar uma posição
que seja tão exaltada como jamais foi alcançada
por qualquer outra pessoa nos três mundos, nem
mesmo por meu pai e avôs. Seja generoso comigo.
Mostre-me um caminho honesto que me permita atingir
meu objetivo de vida. Meu querido mestre de minha alma,
o senhor é o valioso filho de meu bisavô,
o Senhor Brahma, e o senhor viaja, tocando seu instrumento
de cordas, a Vina, para benefíciar todos os seres
vivos do universo. O senhor é como um sol brilhante
que gira pelo universo iluminando os seres vivos para
seu máximo benefício."
O
mestre Narada Muni, ao ouvir as palavras do príncipe,
ficou tomado de compaixão, e mostrou sua misericórdia
sem causa, aconselhando-o da seguinte maneira:
"A
instrução de sua mãe de seguir
o caminho do serviço devocional à Pessoa
de Deus é muito apropriada para o que você
pretende. Portanto, envolva-se completamente na prática
do serviço devocional ao Senhor. A pessoa que
deseja obter os frutos dos quatro objetivos principais
—religiosidade, desenvolvimento econômico,
prazer dos sentidos e liberação—
deve ocupar-se no serviço devocional à
Personalidade Suprema de Deus.
"Meu
querido menino, você deve dirigir-se para as margens
do Rio Yamuna, onde encontrará a floresta de
Madhuvana e onde deverá purificar-se. Somente
por visitar esta floresta, a pessoa aproxima-se mais
da Pessoa de Deus, que anda sempre por lá em
pessoa. Banhe-se três vezes ao dia no Rio Yamuna,
pois suas águas são muito auspiciosas,
sagradas e puras. Depois do banho, pratique os exercícios
de Ashtanga-ioga e, em seguida, sente-se em seu assana
numa posição que lhe permita ficar calmo
e imóvel. Pratique os três tipos de exercícios
respiratórios e controle gradulamente o ar vital,
a mente e os sentidos. Liberte-se completamente de toda
contaminação material e, com paciência,
comece a meditar na Suprema Personalidade de Deus."
Depois de instruir o príncipe dessa forma
e ensinar-lhe o processo iogue de pranayama para
controle da respiração, Narada começou
a descrever, com detalhes, o conhecimento mais oculto
e o maior de todos os segredos: a forma pessoal do Senhor
e o objeto mais elevado de toda meditação.
"O
rosto de Deus é sempre muito belo de se ver e
exibe uma expressão agradável. Para os
devotos que O vêem, Ele parece jamais estar insatisfeito
e sempre pronto a dar-lhes Suas bênçãos.
Seus olhos, Suas lindas e decoradas sobrancelhas, Seu
nariz arrebitado e Sua ampla testa formam um conjunto
estético onde culmina toda a beleza. Se fosse
possível somar a beleza de todos os semideuses
e dos anjos dos céus, ainda assim, Ele permaneceria
comparativamente o mais belo de todos. A forma de Deus
permanece sempre jovem. Cada membro e ângulo de
Seu corpo mantêm proporções harmoniosas
e estão livre dos defeitos materiais. Seus olhos
e lábios são rosados como o sol nascente.
Ele está sempre pronto a dar abrigo às
almas entregues, e a pessoa que for afortunada ao ponto
de poder vê-lO ficará plenamente satisfeita.
"O
Senhor Supremo é um oceano de misericórdia,
o que O qualifica a ser o mestre da alma que a Ele se
rende. O Senhor Supremo traz em seu peito a marca de
Srivatsa, que é o local onde repousa a deusa
da fortuna. Seu corpo tem um matiz azul profundo. O
Senhor é eternamente uma pessoa. Ele usa uma
guirlanda de flores em volta ao pescoço que balança
sobre Seu peito nu. Em Sua forma de Vishnu, Vasudeva,
ou Narayana, Ele manifesta quatro braços que
seguram (de Sua esquerda para a direita) um búzio,
um disco, uma maça e uma flor de lótus.
Ele usa um elmo de ouro decorado com pedras preciosas,
colares e braceletes, e Seu peito é enfeitado
pelo colar Kaustubha. Veste-Se com roupas de seda amarela.
A cintura do Senhor e Seus pés de lótus
são decorados por correntes com pequenos sinos
de ouro. Seus traços são muito atraentes
e oferecem a perfeição aos olhos que O
vêem. Ele é sempre pacífico, calmo
e muito agradável para os olhos e a mente.
"Os
iogues autênticos meditam nessa forma transcendental
de Deus situado de pé sobre a flor de lótus
de seu coração. Deus está sempre
sorrindo com seus dentes alvos parecidos a brotos de
jasmim, e Suas unhas de lótus são como
jóias reluzentes. O devoto deve constantemente
ver que nesta Sua forma transcendental Deus está
olhando para ele com muita misericórdia. Ao fazer
isso, o meditador profundo deve focar sua mente na Personalidade
de Deus que concede todas as bênçãos.
A pessoa que medita dessa maneira, concentrando sua
mente na forma sempre auspiciosa do Senhor, em muito
pouco tempo fica livre de toda contaminação
material e nunca decai de sua meditação
na Personalidade de Deus.
"Príncipe
Dhruva, ouça atentamente o mântra sagrado
que deverá cantar enquanto pratica o processo
de meditação que lhe ensinei. A pessoa
que cantar este mântra cuidadosamente durante
sete noites chegará a ver os seres humanos aperfeiçoados
voando pelo céu. Om namô bhagavatê
vasudevayá: este mântra de doze sílabas
é utilizado para adorar ao Senhor Krishna, o
filho de Vasudeva e a forma suprema do Infinito e Absoluto
Deus. Para praticar este processo devocional, a pessoa
deve instalar a forma da Deidade do Senhor sobre um
altar. Enquanto canta o mântra, deve oferecer
a essa Deidade flores e frutas e outras variedades de
alimentos vegetarianos, seguindo com precisão
todas as regras prescritas pelas autoridades espirituais.
Mas isso deve ser feito levando em consideração
o lugar, o tempo e as circunstâncias favoráveis
e desfavoráveis.
"A
pessoa deve adorar o Senhor oferecendo água pura,
guirlandas de flores, frutas, flores e vegetais, que
se encontram disponíveis na floresta, ou coletando
gramas novas, pequenos brotos de flores ou até
mesmo cascas de árvores e, se possível,
oferecendo folhas de Tulasi, que são muito amadas
por Krishna. A forma pessoal do Senhor pode ser modelada
em elementos físicos tais como terra e água,
polpa, madeira ou metal. Na floresta, essa forma transcendental
pode ser modelada com nada mais do que terra e água
e adorá-la conforme os princípios acima
descritos.
"O
devoto capaz de controlar totalmente seu ser deve ser
muito sóbrio e pacífico e deve sentir-se
satisfeito simplesmente comendo quaisquer frutos ou
vegetais que encontre na floresta. Meu querido Dhruva,
além de adorar a Deidade e de cantar o mântra
três vezes ao dia, você deve ainda meditar
nas atividades transcendentais da Personalidade Suprema
de Deus em Suas diferentes encarnações,
que se manifestam por Sua vontade suprema e potências
pessoais. A pessoa deve seguir o exemplo dos devotos
anteriores no que se refere ao modo de adorar o Senhor
Supremo com a parafernália prescrita. Ou pode
oferecer adoração em seu coração
recitando o mântra para a Personalidade de Deus,
pois Ele é idêntico ao som do mântra.
"Qualquer
pessoa que ocupar sua mente, suas palavras e seu corpo
no serviço devocional ao Senhor com seriedade,
sinceridade e permanecer fixo nas atividades dos métodos
devocionais prescritos pelo mestre espiritual e pelas
escrituras sagradas, tem seu desejo abençoado
pelo Senhor. O devoto será recompensado com o
que desejar, seja desenvolvimento econômico, prazer
dos sentidos ou liberação do mundo material.
Se a pessoa for sincera a respeito de seus objetivos,
deverá apegar-se ao processo do serviço
amoroso transcendental, ocupando-se vinte e quatro horas
ao dia experimentando o mais alto nível de êxtase
devocional."
Depois
de ouvir atentamente os conselhos detalhados do mestre
espiritual e aprender na prática o processo da
devoção ao Senhor Surpemo, Dhruva circundou
Narada e ofereceu-lhe suas reverências respeitosas.
Após despedir-se do mestre, o menino príncipe
iniciou sua jornada rumo a Madhuvana, a floresta sagrada
que é sempre decorada pelas pegadas de lótus
do Senhor Krishna e que, por conseguinte, é especialmente
auspiciosa.
Narada
Muni e o Rei Uttanapada
Depois
que Dhruva foi para a floresta de Madhuvana, o mestre
espiritual dos reis e semideuses pensou que seria sábio
visitar o rei em seu palácio. Do mesmo modo que
fizera com Dhruva, o sábio tornou-se visível
na sala do trono. Quando Narada Muni se aproximou, o
rei recebeu-o apropriadamente, oferecendo-lhe os devidos
respeitos. Depois de sentar-se confortavelmente, Narada
perguntou:
"Meu
caro rei, seu rosto parece estar definhando, e o senhor
exibe aquele olhar de quem tem estado pensando em algo
por muito tempo.Qual a razão disso? Será
que o senhor encontrou obstáculos na execução
de seus ritos religiosos, na expansão do desenvolvimento
econômico e na obtenção do prazer
dos sentidos?"
O
rei triste respondeu:
"Ó
melhor entre os brâmanes, por ter me apegado à
minha esposa, converti-me numa pessoa tão decaída
que abandonei a misericórdia e o afeto em relação
a meu filho de cinco anos. Eu o bani e à sua
mãe, mesmo sabendo que ele é uma grande
alma e um grande devoto do Senhor Supremo. O rosto de
meu filho era belo como uma flor de lótus. Não
consigo parar de pensar em sua condição
precária, desprotegida. Fico imaginando que possa
estar sentindo muita fome. É possível
que tenha se deitado em algum lugar da floresta e que
os lobos o tenham atacado e devorado seu corpo. Oh,
veja só como acabei dominado por minha esposa!
Imagine minha crueldade! Devido a seu amor e afeto,
o menino queria subir em meu colo, mas eu não
o recebi, e nem lhe dei carinho sequer por um momento.
Tenho um coração de pedra."
Narada
Muni ouviu com atenção tudo que o rei
disse e respondeu:
"Meu
caro rei, não fique aflito com respeito a seu
filho. Ele está sendo pessoalmente cuidado pelo
Senhor Supremo. Ainda que o senhor não saiba
a respeito de sua influência, a reputação
do príncipe já se espalha por todo o mundo,
pois ele é muito competente e realiza atividades
vistas como impossíveis até mesmo pelos
grandes reis e sábios. Muito em breve, ele completará
sua tarefa e retornará ao lar. Saiba que o príncipe
difundirá sua fama por todo o mundo."
Uttanapada,
depois de ter sido aconselhado desse modo por Narada
Muni, praticamente abandonou seus deveres em relação
a seu reino, que era muito vasto e opulento como a deusa
da fortuna e, simplesmente, começou a pensar
em seu filho Dhruva.
As
Austeridades de Dhruva Maharaj
Logo
que chegou a Madhuvana e como fora aconselhado por seu
mestre, Dhruva banhou-se no Rio Yamuna e ficou em jejum
a noite inteira. Depois disso, iniciou a adoração
da forma transcendental Deus.
No
primeiro mês, o menino príncipe comeu apenas
frutos e amoras a cada três dias, apenas o suficiente
para manter corpo e alma juntos, e, ao fazer isso, ele
progrediu em sua adoração ao Senhor Supremo.
No
segundo mês, Dhruva Maharaj já comia apenas
grama e folhas secas a cada seis dias, continuando com
sua adoração.
No
terceiro mês, ele apenas bebia água a cada
nove dias e conseguiu ficar em transe total de adoração
à Suprema Personalidade de Deus.
No
quarto mês, o príncipe tornou-se mestre
no exercício de controle da respiração,
sendo que inalava ar somente a cada doze dias. Ao fazer
isso, ele ficou fixo em sua posição e
continuou adorando a forma transcendental, eterna e
bem-aventurada de Deus.
No
quinto mês, o príncipe controlou sua respiração
com perfeição e foi capaz de ficar de
pé sobre uma perna só, firme como uma
coluna, sem fazer o mínimo movimento, e era capaz
de concentrar sua mente no Brahman Supremo, que é
a forma infinita de Deus que abriga todas as energias
materiais e espirituais.

Ele
controlou seus sentidos de percepção e
fixou sua mente, sem qualquer desvio, na forma espiritual
de Deus.
Quando
Dhruva conseguiu capturar em seu coração
a Personalidade Suprema de Deus, o refúgio de
toda a Criação e o mestre de todos os
seres vivos, os três mundos começaram a
trepidar.
Na
medida em que o príncipe-iogue se mantinha estável
sobre uma única perna, a pressão do dedão
do pé empurrou o planeta Terra em sua órbita.
O príncipe ficou praticamente com o mesmo peso
que o Senhor Vishnu, quem é a consciência
total da criação.
Devido
ao poder de sua concentração e por ter
fechado todos os poros de seu corpo, a respiração
universal com seus semideuses e criaturas sentiu-se
sufocar. Por isso, os semideuses buscaram o refúgio
do Senhor Supremo.
Os
semideuses têm acesso direto ao Senhor Vishnu
em Sua residência na Estrela Polar, que é
um planeta espiritual localizado neste universo. Eles
subiram em suas naves e dirigiram-se ao oceano de leite
daquele planeta também conhecido como Sisumara.
Aproximaram-se do Senhor Supremo e disseram:
"Amada
Personalidade Suprema de Deus, somente o Senhor é
o refúgio de todas as entidades vivas móveis
e imóveis. Sentimos que todas as criaturas do
universo estão sufocando, tendo seu processo
respiratório sufocado. Jamais experimentamos
algo semelhante. Viemos até o Senhor, pois não
existe qualquer outro abrigo para as almas rendidas.
Seja bondoso, e salve-nos deste perigo."
Narayana,
o Deus Supremo e a origem de todas as criaturas, é
oniciente e onipotente e respondeu aos temerosos semideuses:
"Meus
queridos semideuses, não fiquem perturbados com
o que está acontecendo. O problema que estão
sentindo se deve às severas austeridades e à
total determinação do filho do rei Uttanapada.
Neste momento, o príncipe Dhurva está
absorto em meditar em Minha forma transcendental. Ele
obstruiu o processo respiratório universal. Vocês
podem retornar com segurança a seus respectivos
lares. Eu farei o príncipe interromper suas austeridades
severas, e todos serão salvos desta situação
calamitosa."
Quando
os semideuses se sentiram assegurados pela Personalidade
Suprema de Deus, ficaram livres de todo temor e despediram-se,
oferecendo suas reverências a Narayana e retornando
a seus planetas celestiais.
Então,
o Senhor Supremo montou sobre Sua águia dourada
Garuda e voou veloz até a floresta de Madhuvana
para encontrar-Se com Seu servo e devoto Dhruva.
A
forma do Senhor na qual o príncipe Dhruva meditava
em total absorção em seu amadurecido processo
de ioga era brilhante como um raio e, repentinamente,
desapareceu de sua visão interna.
Dhruva
ficou perturbado, e sua meditação quebrou-se.
Mas, tão logo abriu seus olhos, o príncipe
viu que a Personalidade Suprema de Deus estava presente
diante de seus olhos arregalados, exatamente com a mesma
forma que O vira durante sua meditação
em seu coração.

Quando
Dhruva Maharaj viu o Senhor diante dele, sentiu-se muito
agitado e ofereceu suas reverências e respeito.
Caiu ao chão prostrado diante dEle e ficou absorto
na inundação de sentimentos de amor
pelo Supremo em que sua alma se afogava. O pequeno príncipe,
em êxtase, olhou para o Senhor como se O estivesse
bebendo com seus olhos, beijando Seus pés de
lótus e abraçando-O com seus pequenos
braços de menino.
Apesar
de ser apenas uma criança, desejou poder oferecer
orações a Deus usando palavras apropriadas.
Mas, por ser inexperiente, não conseguia ajustar-se
àquela situação.
Deus
está situado no coração de cada
criatura, e compreendeu a posição difícil
do príncipe Dhruva. Por Sua misericórdia
sem causa, tocou com seu búzio a testa do príncipe,
que permanecia diante dEle com as mãos juntas
em prece.
Nesse
instante, o príncipe menino tornou-se perfeitamente
consciente dos ensinamentos de todas as escrituras sagradas
e foi capaz de compreender o Infinito Supremo e Seu
relacionamento com todas as entidades vivas infinitesimais.
Seguindo a linha do serviço devocional ao famoso
Senhor Supremo, Dhruva ofereceu suas preces conclusivas
e cheias de ponderações.
"Meu
querido Senhor, o Senhor é onipotente. Ao entrar
em meu coração, o Senhor vivificou todos
meus sentidos adormecidos —minhas mãos,
pernas, ouvidos, sensação do tato, força
vital e especialmente meu poder da fala. Deixe-me oferecer-Lhe
minhas respeitosas reverências. Meu Senhor, o
Senhor é a pessoa Suprema, mas, por meio de Suas
diversas energias, é visto diferentemente nos
mundos material e espiritual. O Senhor cria a energia
total do mundo material por meio de Sua potência
externa, e, depois da criação, adentra
o mundo material como a Superalma. O Senhor é
a Pessoa Suprema, e aquele que, através dos modos
temporários da natureza material, cria as manifestações
mais variadas, tal como o fogo, que, ao entrar nas diversas
variedades de madeira, queima igualmente brilhante.
"Ó
mestre de minha alma, o senhor Brahma está totalmente
rendido ao Senhor. No começo, o Senhor concedeu
a ele o conhecimento, e, por isso, ele foi capaz de
perceber e compreender o universo, igual a uma pessoa
que desperta do sono visualiza seus deveres de imediato.
O Senhor é o único abrigo daqueles que
almejam alcançar a liberação, e
o amigo de todos que sofrem. Como então pode
alguém dotado de conhecimento perfeito jamais
esquecê-lO? As pessoas que O adoram simplesmente
em busca do prazer dos sentidos deste saco de pele estão
sendo influenciados por Maya, Sua energia ilusória.
"Apesar
de O ter alcançado, e sabendo que o Senhor é
como uma árvore dos desejos e a causa da liberação
do nascimento e da morte, pessoas tolas como eu, pedem
Sua bênção para obter o prazer dos
sentidos, o que está disponível até
mesmo para aqueles que vivem em condições
infernais. Meu Senhor, a bem-aventurança transcendental
que se obtém meditando em Seus pés de
lótus ou ao ouvir os devotos puros a respeito
de Suas gloriosas atividades é tão ilimitada
que está muito além do estágio
de realização espiritual em que a pessoa
se pensa submersa na totalidade de Sua energia impessoal
total, e uno com o Supremo. Desde que mesmo esse estado
é também derrotado pela bem-aventurança
transcendental que se experimenta nas práticas
do serviço em devoção ao Senhor,
o que dizer da bem-aventurança temporária
de viver nos planetas dos semideuses, que acabam pela
espada afiada do tempo?
"Mesmo
que uma pessoa seja elevada aos planetas dos semideuses,
terá de cair no devido tempo.
"Ó
senhor ilimitado, seja bondoso e abençoe-me para
que possa associar-me com os grandes devotos que se
ocupam constantemente em Seu serviço amoroso
e transcendental. Esses devotos transcendentais estão
sempre situados num estado de consciência livre
de toda contaminação. Através do
processo do serviço devocional, certamente serei
capaz de atravessar o oceano de ignorância da
perigosa existência material, repleto de ondas
que ardem como o fogo flamejante. Isso será muito
fácil para mim, pois estou louco de vontade de
ouvir sobre Suas qualidades e passatempos transcendentais
e eternos.
"Ó
Senhor, ao se associar a um devoto cujo coração
sempre anseia por Seus pés de lótus, buscando
sempre sua fragrância, a pessoa jamais fica apegada
ao corpo material ou a filhos, amigos, lar, riqueza
ou esposa, todos muito queridos das pessoas materialistas.
Ela não se preocupa com tais coisas. O Senhor
não tem princípio nem fim. Eu sei que
as diversas variedades de entidades vivas, tais como
animais, árvores, pássaros, répteis,
semideuses e seres humanos estão espalhados por
todo o universo gerado pela energia material, e sei
que ora estão manifestos, ora inmanifestos; mas
eu nunca tinha experimentado Sua forma suprema que contemplo
agora diante de mim. Este é o ponto de culminância
de todos os tipos de processos teóricos.
"
Ao final de cada milênio, como o Vishnu universal,
o Senhor dissolve em Seu estômago tudo que se
manifesta no universo. Essa Sua forma repousa sobre
o colo de Shesha Naga e de Seu umbigo brota uma flor
de lótus dourada dentro da qual é criado
o senhor Brahma. Posso entender que o Senhor é
o Deus Supremo. Portanto ofereço-Lhe minhas respeitosas
reverências. Meu Senhor, devido a Seu olhar transcendental
inquebrantável o Senhor é a testemunha
suprema de todos os estágios de atividades intelectuais.
Sua existência eternamente liberada situa-se na
bondade pura e assume a forma da Superalma imutável.
"Como
a Personalidade de Deus original, pleno das seis opulências
—riqueza, fama, poder, conhecimento, beleza e renúncia—
o Senhor é o mestre eterno dos três modos
da natureza material e difere sempre das entidades vivas
comuns. Em Sua forma de Vishnu, o Senhor mantém
todos os aspectos universais, enquanto permanece alheio
a tudo e desfruta os resultados de todos os sacrifícios.
Meu amado Senhor, em Sua manifestação
impessoal de Brahman encontram-se sempre dois elementos
opostos: conhecimento e ignorância. Suas múltiplas
energias estão sempre manifestas, mas o Brahman
impessoal indivisível, original, invariável,
ilimitado e bem-aventurado é a causa da manifestação
material. Por ser a origem do Brahman impessoal, ofereço-Lhe
minhas reverências respeitosas. Meu Deus, ó
Deus Supremo, o Senhor é a forma personificada
de toda bênção.
"Então,
para aquele que se mantém ocupado em Seu serviço
devocional sem qualquer outro desejo, adorar Seus pés
de lótus é melhor do que tornar-se o rei
de um vasto reino. Tal é a bênção
de se adorar Seus pés de lótus. Para devotos
ignorantes como eu, o Senhor é o mantenedor cuja
misericórdia não tem causa."
Quando
o príncipe Dhruva terminou sua oração,
seu coração estava repleto de boas intenções.
A Personalidade de Deus é muito bondoso com Seus
devotos e servos e cumprimentou o príncipe, enquanto
falava as seguintes palavras:
"Meu
amadoDhruva, você cumpriu com seus votos piedosos,
e Eu também percebo o desejo do fundo de seu
coração. Embora seu desejo seja extremamente
ambicioso e muito difícil de satisfazer, Eu o
satisfarei. Aceite toda boa fortuna. Premiarei você
com o planeta refulgente conhecido como a Estrela Polar,
ou Sisumara, o qual continua a existir mesmo depois
da dissolução universal, ao término
do milênio. Ninguém jamais regeu esse planeta
que é circundado por todos os sistemas solares,
planetas e estrelas.
"Todas
as luminárias no céu giram habitadas pelos
grandes sábios como Dharma, Agni, Kasyapa e Sukra
circundam este planeta eterno, mantendo a Estrela Polar
à sua direita. Depois que seu pai lhe transferir
o comando de seu reino e se retirar para a floresta,
você regerá a Terra continuamente por trinta
e seis mil anos, e seus sentidos permanecerão
tão fortes e jovens quanto agora, pois você
nunca envelhecerá. Eu sou o âmago de todo
sacrifício. Você executará grandes
sacrifícios e também dará caridade
em abundância. Deste modo, será capaz de
desfrutar das bênçãos de uma felicidade
material ainda nesta vida e, na hora de sua morte, poderá
lembrar-se de Mim. Meu amado Dhruva, depois de terminar
sua existência material neste corpo, você
viverá em Meu planeta que é sempre reverenciado
pelos residentes de todos os demais sistemas planetários.
Este Meu planeta situa-se acima dos planetas dos sete
rishis e, ao chegar nele, você nunca mais terá
de retornar a este mundo material."
Depois
de ser adorado e honrado por Dhruva, e depois de oferecer-lhe
Sua morada, o Senhor Vishnu montou em Garuda e retornou
à Sua morada, enquanto o príncipe observava
emocionado Sua partida.
Apesar
de ter alcançado o resultado desejado através
da adoração do Senhor Supremo, Dhruva
Maharaj não ficou muito satisfeito e decidiu
retornar ao lar.
A
morada do Senhor é difícil de se atingir.
Só se pode chegar lá por meio do serviço
em devoção pura que é a única
coisa que agrada ao muito afetuoso e misericordioso
Senhor. O príncipe Dhruva era muito sábio
e consciencioso e alcançou esta posição
até mesmo numa única vida. Por que, então,
o príncipe não se sentiria extremamente
satisfeito?
O
coração do príncipe que fora perfurado
pelas flechas das palavras severas da madrasta estava
muito entristecido, e, assim, quando se fixou no que
seria sua meta de vida, não conseguiu perdoar
o comportamento dela. Foi por essa razão que,
quando a Personalidade Suprema de Deus apareceu diante
dele, ele não desejou a liberação
deste mundo material ao término de seu serviço
em devoção, e sentiu-se simplesmente envergonhado
dos desejos materiais que manteve em sua mente.
Dhruva
Maharaj pensava que esforçar-se para situar-se
à sombra dos pés de lótus do Senhor
não é uma tarefa ordinária, pois
mesmo grandes ascetas liderados por Sanandana que praticaram
Ashtanga-ioga em transe só atingiram o abrigo
do Senhor depois de inúmeros nascimentos. Em
apenas seis meses, Dhruva obteve o mesmo resultado.
Contudo, ele sentia que por cultivar pensamentos e desejos
diferentes dos do Senhor, tinha decaido de sua posição.

"Ai",
lamentava-se o príncipe, "olhem para mim!
Estou tão infeliz. Cheguei a ficar aos pés
da Personalidade Suprema de Deus quem é capaz
de cortar de imediato o aprisonamento ao ciclo dos repetidos
nascimentos e mortes. Mas, mesmo assim, devido à
minha tolice, implorei por coisas perecíveis."
Dhruva
pensava que uma vez que os semideuses que vivem nos
sistemas planetários superiores terão
de descer para nascer novamente em formas humanas quando
terminar o acúmulo de suas atividades piedosas,
eles ficaram invejosos dele ter sido elevado a Vaikuntha
através de seu serviço em devoção.
Pensou que esses semideuses intolerantes dissiparam
sua inteligência, e por isso ele não foi
capaz de aceitar a bênção genuína
das instruções do sábio Narada.
"Sinto-me
sob a influência da energia ilusória",
pensou Dhruva. "Sendo ignorante dos fatos, fiquei
dormindo no colo da ilusão. Dominado por uma
visão dual, vi meu irmão como meu inimigo
e lamentei em meu coração, enquanto pensava
que ele e sua mãe eram meus inimigos. É
muito difícil satisfazer à Pessoa de Deus,
mas, em meu caso e embora eu tenha satisfeito à
Superalma de todo o universo, só Lhe pedi coisas
inúteis. Minhas atividades se parecem ao remédio
dado a alguém que já morreu. Vejam só
como sou infeliz, pois, apesar de ter estado diante
do Deus Supremo capaz de cortar qualquer ligação
da alma com o ciclo dos nascimentos e mortes neste mundo
material, eu pedi novamente pelas mesmas condições.
Por ser eu um tolo completo e por minha falta de atividades
piedosas, embora o Senhor me tenha oferecido Seu serviço
pessoal, desejei renome material, fama e prosperidade.
Meu caso é igual ao do mendigo que, tendo satisfeito
um grande imperador que lhe ofereceu o que quisesse,
devido à ignorância, pediu apenas alguns
grãos de arroz quebrado."
As
pessoas que são devotos puros dos pés
de lótus de Mukunda (a Personalidade Suprema
de Deus que oferece a liberação] e que
estão sempre apegadas ao néctar de Seus
pés, permanecem satisfeitas servindo ao Senhor
Supremo. Essas pessoas ficam felizes em qualquer condição
de vida e nunca pedem a Deus por prosperidade material.
O
Retorno do Príncipe
Quando
o mensageiro trouxe a notícia de que o príncipe
retornava ao palácio, foi como se o rei Uttanapada
ressucitasse. Ele teve dificuldades de acreditar na
mensagem, pois duvidava que isso pudesse acontecer.
Ele se considerava o mais miserável dos homens,
e pensava que não era possível que alguém
como ele tivesse tamanha boa fortuna.
Embora
não pudesse acreditar nas palavras do mensageiro,
teve fé nas palavras do sábio Narada.
Estava feliz com a notícia e deu ao mensageiro
um colar muito valioso.
O
rei Uttanapada estava ansioso de ver o rosto de seu
filho perdido. Subiu numa carruagem ornada com filigranas
de ouro e puxada pelos mais velozes cavalos do reino.
Convocou para acompanhá-lo brâmanes eruditos,
os membros mais velhos da família, seus auxiliares,
ministros e amigos próximos e partiu imediatamente
da cidade ao encontro do filho. Enquanto a alegre caravana
prosseguia, produzia sons auspiciosos de búzios,
tambores, flautas e o cântico de mântras
sagrados para indicar a boa fortuna.
Ambas
as rainhas de Uttanapada, Suniti e Suruchi, acompanhadas
do príncipe Uttama, juntaram-se à procissão.
As rainhas iam sentadas no mesmo palanquim.
Ao
ver o príncipe Dhruva aproximando-se da pequena
floresta vizinha à cidade, Uttanapada desceu
de sua carruagem apressado. Ele estivera ansioso por
ver seu filho Dhruva e, então, tomado por amor
e afeto profundos, correu para abraçar seu menino
que reencontrava depois de tanto tempo e, arfante, abraçou-o.
Mas
aquele Dhruva já não era o mesmo de antes;
por ter sido tocado pela Personalidade Suprema de Deus,
estava completamente santificado em seu avanço
espiritual.
O
encontro com seu filho satisfez o desejo cultivado pelo
rei que cheirava a cabeça do filho repetidamente
e banhava-o com as lágrimas que rolavam em seu
rosto.
Então,
Dhruva Maharaj, o principal entre os nobres, primeiro
ofereceu seus respeitos ao pai e sentiu-se honrado de
responder às várias perguntas que ele
lhe fazia. Em seguida, curvou sua cabeça diante
de suas duas mães.
Suruchi,
a mãe mais jovem do príncipe Dhruva, vendo
que o menino inocente se prostrara diante dela, levantou-o,
abraçou-o, e, com lágrimas sentidas, abençoou-o
dizendo:
"
Meu querido menino, desejo que você viva uma vida
longa!"
É
natural que as pessoas ofereçam suas honras à
pessoa que se mostra dotada de qualidades transcendentais
devido a seu comportamento amigável em relação
à Pessoa de Deus.
Os
dois irmãos Uttama e Dhruva também trocaram
lágrimas. Eles se estavam dominados pelo êxtase
de amor e afeto e, ao se abraçarem, sentiram
arrepios pelo corpo.
Suniti,
a verdadeira mãe de Dhruva, abraçou o
corpo tenro e purificado de seu filho que lhe era mais
querido que a própria vida, esquecendo-se de
toda aflição material, frente à
imensa felicidade e orgulho que sentia de seu filho
amado.
Suniti
era a mãe de um grande herói. O corpo
do príncipe ficou encharcado com as lágrimas
e também com o leite que fluía dos seios
da mãe. Este era um sinal grandioso e auspicioso
ao extremo.
Os
residentes do palácio estavam comovidos com o
desfecho dessa história e alguns elogiaram a
Rainha dizendo:
"Querida
Rainha, seu filho amado ficou tanto tempo perdido, e
sua maior fortuna é tê-lo de volta agora."
"Parece
que seu filho poderá protegê-la por muito
tempo e acabará com seu sofrimento material."
"A
senhora deve ter adorado ao Senhor Supremo que sempre
liberta Seus devotos dos piores perigos."
"As
pessoas que meditam nEle sem cessar vão além
do ciclo de nascimentos e mortes. Esta é a perfeição
mais difícil de se alcançar."
Enquanto
todos exaltavam as qualidades e as atividades extraordinárias
do príncipe Dhruva, o rei sentia-se feliz demais.
Ele sentou Dhruva se junto a Uttama no palanquim de
uma elefanta, e a caravana retornou à capital
onde as pessoas puderam glorificar o príncipe.
A
cidade estava enfeitada de colunas feitas de bananeiras
que continham arranjos de frutas, flores e galhos da
noz de betel. Viam-se também portais em forma
de arcos que pareciam tubarões.
Em
cada portão haviam lamparinas ardentes que queimavam
óleos aromáticos, potes de água
decorados com tecidos de diversas cores e estampas,
colares de pérolas, guirlandas suspensas feitas
de flores variadas e folhas de manga brilhantes.
A
cidade tinha muitos palácios, portões
e muralhas que já eram bonitos de se ver e que,
nesta ocasião especial, haviam sido enfeitados
com ornamentos de ouro. As cúpulas dos palácios
da cidade brilhavam igual às cúpulas das
belas naves que pairavam sobre a cidade.
As praças, vielas, ruas e avenidas da cidade,
e ainda as arquibancadas elevadas instaladas nos cruzamentos,
tinham sido lavadas e borrifadas com água de
sândalo. Por toda parte, viam-se pilhas de grãos
auspiciosos como arroz e cevada, e mais flores, frutas
e outros presentes especiais espalhados de modo artístico.
Assim
que Dhruva Maharaj passou pelas ruas, provenientes de
todos os bairros reuniam-se as damas ansiosas de vê-lo.
Devido ao afeto materno que sentiam pelo menino príncipe,
ofereceram-lhe suas bênçãos e despejaram
sobre a caravana sementes de mostarda branca, cevada,
coalho, água, grama verde, frutas e flores. Passando
lentamente por este cenário de celebração,
o príncipe entrou no palácio de seu pai,
tendo ao fundo o som das doces canções
cantadas pelas senhoras da cidade.
O príncipe passou a residir no palácio
do pai, cujas paredes estavam decoradas com jóias
valiosas. Seu pai afetuoso passou a cuidar pessoalmente
dele, fazendo com que vivesse com a mesma opulência
dos semideuses em seus palácios dos sistemas
planetários superiores.
A
roupa de cama do palácio era tão branca
quanto a espuma do leite e era muito suave ao tato.
As estruturas das camas eram feitas de marfim com filigranas
de ouro, e as cadeiras, os bancos, outros assentos e
toda a mobília eram feitos de ouro.
O
palácio do Rei era cercado por muralhas de mármore
com relevos esculpidos de lindas mulheres que seguravam
em suas mãos lamparinas de jóias valiosas
como safiras.
A
residência do rei ficava em meio a jardins com
várias árvores trazidas dos planetas celestiais.
Nessas árvores, viam-se casais de pássaros
canoros e abelhas quase enlouquecidas que produziam
um zumbido muito agradável .
As
escadarias eram enfeitadas por esmeraldas e conduziam
a lagos cobertos de lírios e flores de lótus
de várias cores, em cujas margens passeavam,
banhavam-se e nadavam cisnes, karandavas, chakravakas,
garças azuis e outros pássaros muito raros.
As
atividades do príncipe eram maravilhosas ao extremo,
e Uttanapada estava muito satisfeito de ver e ouvir
falar a respeito das gloriosas atividades de seu filho
e de ver o quão influente e grandioso ele era.
Depois
de considerar em profundidade todos os aspectos e percebendo
que Dhruva estava a madurecido para encarregar-se do
reino Uttanapada decidiu empossar o príncipe
como imperador da Terra , tendo o apoio de seus ministros
e de todos os cidadãos que também o amavam
muito.
O
rei também levou em consideração
sua idade avançada e deliberou sobre seu bem-estar
espiritual. Desapegou-se dos negócios mundanos
e decidiu retirar-se para a floresta, para viver junto
aos sábios e santos.
Pouco
tempo depois, o agora imperador Dhruva casou-se com
a filha de Prajapati Sisumara que era conhecida como
Bhrami, com quem teve dois filhos.
O
poderoso imperador teve ainda outra esposa chamada Ila,
filha de Vayu, o semideus do vento. Com ela teve um
filho e uma filha.
A guerra contra os Yaksas
Uttama
permanecera solteiro. Partiu certa vez numa excursão
de caça e foi morto por um yaksa poderoso nas
montanhas da cordilheira do Himalaia. Sua mãe,
Suruchi, foi atrás do filho e também morreu.
Quando
o imperador Dhruva ouviu falar da morte do irmão
pelos yaksas nas montanhas do Himalaia, sentiu-se tomado
pela lamentação e pela ira, montou em
sua carruagem e partiu para conquistar Alakapuri, a
cidade dos yaksas.
Dhruva
Maharaj seguiu no rumo norte, adentrando a cordilheira
Himalaia. Ao chegar a um vale, viu uma cidade habitada
por pessoas de características fantasmagóricas
e que eram seguidores do senhor Shiva.
Como
veremos, os guerreiros xátrias eram mestres de
uma tecnologia que lhes permitia desenvolver armas investidas
de poderes místicos. Uma vez disparadas, as flechas
transformavam-se naquilo em que o guerreiro meditasse
utilizando seus poderes mentais.
Logo
que Dhruva Maharaj chegou a Alakapuri, fez soar imediatamente
seu búzio. O som reverberou pelos céus
em todas as direções. As esposas dos yaksas
ficaram muito amedrontadas. Isso ficava aparente nos
olhares repletos de ansiedade que trocavam entre si.
Os
poderosos heróis yaksas não foram capazes
de tolerar a vibração ressonante e provocadora
do búzio do imperador da Terra. Saíram
armados de sua cidade e atacaram Dhruva.
Naquela
época, as guerras eram disputadas em campos de
batalha, pois governantes e guerreiros respeitavam e
protegiam as cidades, as lavouras e a vida de civis
— mulheres, crianças e anciãos. Somente
as pessoas que por sua natureza eram guerreiros é
que participavam nas guerras.
Dhruva
Maharaj era um excelente cocheiro e certamente um exímio
arqueiro e, imediatamente, pôs-se a matar yaksas
disparando três flechas de cada vez simultaneamente.
Quando
os heróis yaksas viram que suas cabeças
estavam sendo ameaçadas pelo imperador, puderam
facilmente entender sua posição delicada
e concluíram que seriam certamente derrotados.
Mas, como heróis que eram, louvaram as atividades
de Dhruva.
As
serpentes não podem tolerar serem pisoteadas
por qualquer um. Do mesmo modo, os yaksas não
puderam tolerar a maravilhosa coragem do imperador Dhruva.
Lançaram duas vezes mais flechas contra Dhruva
exibindo com valentia seu valor.
Eram
130.000 guerreiros yaksas poderosos e irados. Todos
eles desejavam derrotar as atividades extraordinárias
de Dhruva Maharaj. Com força total, lançaram
vários tipos de flechas emplumadas, clavas de
ferro, espadas, tridentes, lanças, lanceias e
armas bhusundi que desciam como chuva torrencial sobre
Dhruva e sobre sua carruagem e cocheiro.
Dhruva
Maharaj ficou completamente coberto pela chuva incessante
de armas, como se fosse uma montanha coberta por uma
tempestade.
Os
seres perfeitos dos sistemas planetários superiores
observavam a luta desde o céu, e, ao verem que
Dhruva tinha sido coberto pelas flechas incessantes
do exército inimigo, rugiram tumultuosamente:
"O neto de Manu, Dhruva, está agora perdido!"
E choraram ao ver que Dhruva Maharaj parecia um sol
que se punha no oceano dos yaksas.
Os
yaksas, sentindo-se temporariamente vitoriosos, gritaram
seu gritos de vitória sobre o imperador. Mas,
nisso, a carruagem de Dhruva apareceu repentinamente.
Foi como se o sol aparecesse de repente de dentro da
bruma nebulosa.
O
arco e as flechas de Dhruva Maharaj ressoaram e assobiaram,
causando lamentação aos corações
de seus inimigos. Ele começou a atirar flechas
sem parar, quebrando suas diferentes armas, parecendo
o vento que sopra e espalha as nuvens reunidas no céu.
As
flechas afiadas que saiam do arco do imperador perfuraram
as couraças e os corpos do inimigo, como se fossem
raios atirados pelo rei dos céus para destroçar
os picos das montanhas.
As
cabeças daqueles que haviam sido despedaçados
pelas flechas de Dhruva Maharaj mostravam uma formosura
tenebrosa enfeitadas com brincos e turbantes. As pernas
de seus corpos estavam tão belas como se fossem
árvores de palma douradas, seus braços
estavam enfeitados com pulseiras douradas e braceletes,
e suas cabeças estavam cobertas por valiosos
elmos ornados de ouro. Todos estes ornamentos caídos
sobre o campo de batalha eram muito atraentes e poderiam
desnortear a mente de um herói.
Os
yaksas restantes e que, de alguma maneira, não
haviam sido mortos tinham seus membros cortados pelas
flechas do imperador e começaram a fugir, como
os elefantes fogem quando são derrotados por
um leão.
Dhruva
Maharaj, o melhor dos seres humanos, observou que, naquele
grande campo de batalha, nenhum dos soldados adversários
ficara de pé com suas armas. Ele desejou ver
a cidade de Alakapuri, mas pensou consigo mesmo, "Ninguém
conhece os planos dos místicos guerreiros yaksas".
Enquanto
Dhruva Maharaj e seu cocheiro conversavam sobre as dúvidas
que tinham quanto a seus inimigos místicos, ouviram
um som tremendo. Era como se o oceano inteiro estivesse
presente no vale. Viram descer do céu sobre eles
uma grande tempestade de poeira que vinha de todas as
direções.
Num
instante, o céu inteiro estava nublado por nuvens
densas, e ouvia-se um trovejar estrondoso. Raios refulgiam
e, repentinamente, caiu uma chuva pesada.
Mas
aquela não era uma chuva comum, pois o que caia
era sangue, muco, pus, tutano, urina e medula que jorravam
pesadamente sobre Dhruva Maharaj, sendo que pedaços
de corpos também caiam do céu.
Nisso,
apareceu no céu uma enorme montanha, e de todas
as direções caia granizo, junto com lanças,
maças, espadas, clavas de ferro e grandes pedregulhos.
Dhruva
Maharaj viu muitas serpentes de enormes olhos irados
vomitando fogo que vinham devorá-lo, seguidas
de grupos de elefantes furiosos, leões e tigres.
Então,
como se tivesse chegado a hora da dissolução
do mundo inteiro, o mar feroz com ondas espumantes avançou,
rugindo para ele.
Os
demônios yaksas são por natureza muito
odientos, e por seu poder ilusório demoníaco
são capazes de criar muitos fenômenos estranhos
para amedrontar pessoas de pouca inteligência.
Quando
os grandes sábios viram que Dhruva estava sendo
dominado pelos truques místicos e ilusórios
dos demônios yaksas, uniram-se imediatamente para
oferecer-lhe encorajamento e disseram:
"Querido
Dhruva, que a Personalidade Suprema de Deus que alivia
as angústias de Seus devotos destrua todos seus
inimigos ameaçadores. O santo nome de Deus é
tão poderoso quanto o próprio Deus. Portanto,
por apenas cantar e ouvir o santo nome de Deus, as pessoas
podem ser protegidas da morte feroz sem dificuldade.
É assim que um devoto é salvo."
Quando
Dhruva Maharaj ouviu as palavras encorajadoras dos grandes
sábios, executou o ritual de purificação,
tocando na água e, em seguida, pegou sua flecha
feita pelo próprio Senhor Narayana e fixou-a
em seu arco.
Logo
que Dhruva encostou a flecha mística em seu arco,
a ilusão criada pelos yaksas foi derrotada imediatamente,
do mesmo modo que ao ficar consciente de seu ego a pessoa
derrota todas as dores e prazeres materiais.
Quando
Dhruva Maharaj encostou a arma feita por Narayana em
seu arco, flechas de hastes douradas e plumas como as
asas de um cisne voaram dele e penetraram nos corpos
dos guerreiros inimigos fazendo um alto som sibilante,
como se fossem pavões entrando numa floresta
com seus gritos de alegria tumultuosa.
Essas
flechas afiadas espantaram os guerreiros inimigos que
quase perderam a consciência. Os yaksas que permaneciam
de pé no campo de batalha pegaram em suas armas
e contratacaram raivosamente. Pareciam as
serpentes agitadas por Garuda correndo rumo a ele com
seus capelos levantados.
Os
guerreiros yaksas prepararam-se para dominar Dhruva
Maharaj com suas armas apontadas.
Dhruva,
por sua vez, viu os yaksas avançando. Pegou suas
flechas e despedaçou os inimigos. Ao separar
seus braços, pernas, cabeças e barrigas
dos corpos, ele liberou as almas dos yaksas que se transferiram
para o sistema planetário que se situa logo acima
do globo solar e que só é atingível
por aqueles que praticam a bramacharia e nunca descarregam
seu sêmen.
Quando
Svayambhuva Manu viu seu neto Dhruva matando tantos
yaksas que não eram de fato os ofensores, e devido
à compaixão que sentiu, aproximou-se do
neto acompanhado dos sábios.
Manu
disse:
"Meu
querido filho, por favor pare com tanta matança.
Não é bom ficar desnecessariamente zangado
—esse é o caminho para uma vida infernal.
Agora, você ultrapassou os limites, matando Yaksas
que não são de fato os ofensores. As autoridades
não aprovariam sua matança dos yaksas
que não cometeram qualquer pecado, e isso não
serve à nossa família que conhece as leis
da religião e da irreligião. Você
já provou seu afeto profundo por seu irmão
e sua tristeza por ele ter sido morto por um yaksa.
Mas considere que, devido à ofensa de um único
yaksa, você matou muitos outros que eram inocentes.
"A
pessoa não deveria aceitar o corpo como sendo
o eu e, como um animal, matar os corpos de outras criaturas.
As pessoas santas que seguem o caminho do serviço
em devoção à Personalidade Suprema
de Deus condenam isso. É muito difícil
alcançar a morada espiritual de Hari, nos planetas
Vaikuntha, mas você é tão afortunado
que já está destinado a ir para aquele
mundo através da adoração a Ele
que é a residência suprema para todas as
entidades vivas. Por você ser um devoto puro do
Senhor, Ele está sempre pensando em você,
e todos Seus devotos confidenciais também conhecem
sua fama. Sua vida destina-se a exibir um comportamento
exemplar.
"Eu
estou portanto surpreso que você tenha empreendido
uma tarefa tão abominável. O Senhor está
muito satisfeito com Seu devoto quando este lida com
outras pessoas com tolerância, misericórdia,
amizade e igualdade. A pessoa que, de fato, satisfaz
a Personalidade Suprema de Deus durante sua vida é
liberada das condições materiais grosseiras
e sutis. Sendo assim liberta da influência dos
modos da natureza material, alcança a felicidade
espiritual ilimitada. A criação do mundo
material começa pelos cinco elementos —terra,
água, fogo, ar e éter— e, por conseguinte,
tudo, inclusive o corpo de um homem ou de uma mulher,
compõe-se destes elementos. Através da
vida sexual entre um homem e uma mulher, o número
de seres humanos de ambos os sexos aumenta cada vez
mais povoando este mundo material. A criação,
a manutenção e a aniquilação
de tudo que existe ocorre simplesmente devido à
energia ilusória material do Senhor Supremo e
pela interação dos três modos da
natureza material.
"Meu
querido Dhruva, Deus é incontaminado pelos modos
da natureza material. Ele é a causa remota da
criação desta manifestação
cósmica material. Quando Ele dá o ímpeto,
muitas outras causas e efeitos são produzidos,
e o universo inteiro se move, assim como o ferro se
move pela força de um imã. A Pessoa de
Deus, por meio de Sua energia suprema inconcebível,
o tempo, causa a interação dos três
modos da natureza material das quais se manifestam várias
energias. Parece que Ele está agindo, mas Ele
não é o ator. Parece que é Ele
quem está matando as criaturas deste mundo, mas
Ele não é o matador. Tudo acontece porque
Seu poder inconcebível está por trás.
"A
Personalidade Suprema de Deus existe sempre, mas ao
assumir Sua forma do tempo, Ele mata tudo que existe.
Embora seja o começo de tudo, Ele não
tem começo, e embora tudo seja exaurido em seu
devido tempo, Ele não Se exaure. As entidades
vivas são criadas por meio do agenciamento de
um pai e mortos pelo agenciamento da morte, mas Ele
permanece sempre livre do nascimento e da morte. A Personalidade
Suprema de Deus, como o tempo eterno, encontra-se presente
no mundo material e Se mantém neutro em relação
ao mundo. Ninguém é Seu aliado e ninguém
é Seu inimigo. Dentro da jurisdição
do elemento tempo, todos desfrutam ou sofrem o resultado
de seu próprio carma, ou de suas atividades reacionárias.
Ao soprar, o vento faz pequenas partículas de
pó voarem pelo ar; do mesmo modo, a pessoa sofre
ou desfruta da vida material segundo seu carma particular.
"A
Personalidade de Deus, Vishnu, é Todo-poderosa,
e Ele concede os resultados de todas as atividades.
Portanto, enquanto a duração de vida de
um ser vivo é muito pequena e de outra é
muito grande, Ele permanece sempre em Sua posição
transcendental, e não há questão
de diminuir ou aumentar a duração de Sua
vida. A diferença entre as várias formas
vida e seu sofrimento e desfrute é explicada
por alguns como resultando do carma. Outros dizem que
se deve à natureza; outros, devido ao tempo;
outros, devido ao destino, e, ainda outros, afirmam
que se deve ao desejo.
"A
Verdade Absoluta, a Transcendência, jamais pode
ser compreendida pelo esforço dos sentidos imperfeitos,
e nem pode ser percebida diretamente. Ele é o
mestre das varias energias, na forma da energia material
total, e ninguém pode compreender Seus planos
ou ações; então, podemos concluir
que embora Ele seja a causa original de todas as causas,
ninguém pode conhecê-lO através
da especulação mental. Meu querido filho,
esse yaksas que são os descendentes de Kuvera
não são de fato os assassinos de seu irmão;
o nascimento e a morte de toda entidade viva são
causados pelo Supremo, que é certamente a causa
de todas as causas.
"A
Personalidade Suprema de Deus cria este mundo material,
mantém-no e aniquila-o a seu devido tempo; mas,
por ser transcendental a tais atividades, ao agir, Ele
nunca é afetado pelo ego nem pelos modos da natureza
material. A Personalidade de Deus é a Superalma
situada no coração de todas as entidades
vivas. Ele é o controlador e mantenedor do mundo
inteiro; através de Sua energia externa, Ele
cria, mantém e aniquila o mundo.
"Dhruva,
por favor, renda-se à Pessoa de Deus que é
a meta última do progresso do mundo. Todos no
mundo, inclusive os semideuses liderados pelo senhor
Brahma, estão trabalhando sob Seu controle, da
mesma maneira que um touro, incitado por uma corda em
seu nariz, é controlado por seu dono. Meu filho,
você tinha apenas cinco anos de idade quando foi
gravemente ferido pelas palavras de sua madrasta, deixando
a proteção de sua mãe com muita
valentia, tendo ido para a floresta para se ocupar no
processo iogue para realização da Personalidade
Suprema de Deus. Como resultado disso, você já
alcançou a posição mais elevada
nos três mundos. Por favor, dirija sua atenção
à Pessoa Suprema que é o infalível
e onipenetrante Brahman. Perceba a Personalidade Suprema
de Deus em Sua posição original, e assim,
através da auto-realização, você
poderá perceber que esta diferenciação
material é ilusória e instável.
Retomando assim sua posição natural e
realizando serviço ao Senhor Supremo que é
o reservatório Todo-Poderoso de todo prazer e
quem vive dentro de todas as entidades vivas como a
Superalma, muito em breve você se livrará
da compreensão ilusória baseada no falso
conceito de " eu " e " meu". Meu querido rei do mundo,
apenas considere o que eu lhe disse e que agirá
como um remédio sobre uma doença. Controle
sua ira, pois ela é a principal inimiga no caminho
da realização espiritual.
"
Desejo-lhe toda boa fortuna. Por favor, siga minhas
instruções. A pessoa que tem vontade de
atingir a liberação deste mundo de repetidos
nascimentos e mortes não deveria cair sob o controle
da ira porque, quando a pessoa é desnorteada
pela ira, ela causa medo a todas as pessoas. Meu querido
Dhruva, você pensou que os yaksas mataram seu
irmão, e por isso você matou um grande
número deles. Mas por ter feito isso você
agitou a mente de Kuvera, o irmão do Senhor Shiva,
e o tesoureiro dos semideuses. Por favor, perceba que
suas ações foram muito desrespeitosas
a Kuvera e ao Senhor Shiva. Por isso, meu filho, você
deve pacificar Kuvera imediatamente com palavras doces
e orações, e a ira dele não afetará
nossa família."
Depois
de instruir seu neto Dhruva, Svayambhuva Manu aceitou
as reverências respeitosas dele e, junto com os
sábios que o acompanhavam, retornou para sua
morada.
A
ira de Dhruva cedeu, e ele parou de matar os yaksas.
Quando Kuvera, o mais abençoado mestre da tesouraria
universal, soube a respeito do ocorrido, apareceu diante
dele. Enquanto era adorado pelos yaksas,
kinnaras e charanas, ele falou com o imperador Dhruva
que se levantou diante dele com as mãos em prece
respeitosas.
O
mestre tesoureiro, Kuvera, então disse:
"Dhruva,
você é o impecável filho de um santo
guerreiro xátria. Estou muito feliz de saber
que você seguiu a instrução de seu
avô e abandonou seus sentimentos de inimizade,
ainda que isso é muito difícil de se evitar.
Eu estou muito contente com você. A verdade é
que não foi você quem matou os yaksas,
nem foram eles que mataram seu irmão. A causa
última da geração e aniquilação
de tudo o que existe é o tempo eterno do Senhor
Supremo. A pura ignorância de sua identidade original
faz com que as pessoas se identifiquem com o conceito
corporal de ‘eu’ e ‘tu’. Essa identidade
física é a causa dos repetidos nascimentos
e mortes, e faz com que as pessoas entrem continuamente
na existência material.
"Assim,
vá em frente e que o Senhor Supremo possa agraciá-lo
sempre com boa fortuna. A Personalidade Suprema de Deus
situa-Se além da percepção dos
sentidos. Ele é a Superalma de todas as entidades
vivas. Sendo assim, todas os seres são unos,
sem distinção. Portanto, execute serviço
à forma transcendental do Senhor, pois Ele é
o último refúgio de todas as criaturas.
Ocupe-se totalmente no serviço em devoção
ao Senhor, pois só Ele pode nos libertar desta
teia da existência material. Embora o Senhor esteja
conectado à Sua potência material, Ele
permanece indiferente às atividades dela.
"Tudo
neste mundo material está acontecendo pela potência
inconcebível da Personalidade Suprema de Deus.
Meu querido Dhruva Maharaj, você é o filho
de meu filho Uttanapada. Todos contam que você
está sempre envolvido no serviço amoroso
e transcendental à Personalidade Suprema de Deus,
Quem é famoso pois Brahma, o criador dos sistemas
planetários no universo nasceu da flor de lótus
que brotou no lago que se formou em Seu umbigo. Você
merece receber todas nossas bênçãos.
Não hesite em pedir-me qualquer bênção
que desejar."
Quando
Kuvera, o rei dos yaksas convidou-o a aceitar uma bênção
sua, Dhruva Maharaj, por ser um devoto puro muito elevado
e um rei inteligente e meditativo, implorou pela fé
inabalável e pela lembrança contínua
da Personalidade Suprema de Deus, pois, sabia ele que,
desse modo, uma pessoa pode cruzar o oceano de ignorância
com facilidade, embora isso seja difícil de se
fazer.
Kuvera,
ficou muito contente ao ouvir o pedido de Dhruva, e
sentiu-se feliz de poder dar-lhe a bênção
pedida. Depois disso, ele desapareceu da presença
de Dhruva, e este retornou ao palácio imperial.
Dhruva Maharaj Retorna a Deus
Enquanto
permaneceu em casa, Dhruva Maharaj realizou inúmeras
cerimônias de sacrifícios devocionais para
agradar ao desfrutador de todos os sacrifícios,
a Personalidade Suprema de Deus.
Os
sacrifícios cerimoniais prescritos nas escrituras
védicas destinam-se especialmente à satisfação
do Senhor Vishnu, o próprio objetivo de todos
esses sacrifícios e Aquele que concede as bênçãos
resultantes de sua execução.
Dhruva
realizou serviço em devoção ao
Senhor Supremo, o reservatório de tudo, com sua
força inflexível que o caracterizou a
vida inteira. Ao executar seu serviço em devoção
ao Senhor, ele foi capaz de perceber que tudo existe
apenas dentro dEle e que Ele Se situa dentro de todas
as criaturas móveis e imóveis.
O
Senhor é também chamado de Achyuta, nome
esse que significa que Ele nunca falha em Seu dever
principal de oferecer proteção a Seus
devotos.
Dhruva
Maharaj era um homem dotado de todas as qualidades religiosas;
tinha muito respeito pelos devotos do Senhor Supremo
e era muito bondoso com os pobres e inocentes, e, como
imperador da Terra, sempre protegeu os princípios
religiosos. Com todas essa qualificações,
era natural que os cidadãos da Terra o considerassem
como um pai.
O
imperador Dhruva governou a Terra por trinta e seis
mil anos, mantendo seu corpo e sua disposição
sempre jovens pela bênção de Deus.
Ele sabia que, a cada momento de desfrute que vivia,
diminuía as reações que resultam
das atividades piedosas, e, ao realizar austeridades,
diminuía as reações desfavoráveis.
A
grande alma autocontrolada de Dhruva Maharaj passou
milhares de anos praticando os três tipos de atividades
mundanas, ou seja: religiosidade, desenvolvimento econômico
e satisfação de todos os desejos materiais.
Depois disso, ele lembrou de seu pai, o rei Uttanapada,
e entregou a responsabilidade do trono imperial a seu
filho primogênito.
O
maravilhoso Dhruva Maharaj iluminou-se com a percepção
clara de que esta manifestação cósmica,
por ser uma criação da energia ilusória
e externa do Senhor Supremo, desnorteia as entidades
vivas como um sonho ou fantasmagoria .
Dhruva
Maharaj, por fim, abandonou seu reino que se estendia
por toda a Terra e cujas fronteiras encostavam nos grandes
oceanos do planeta. Ele considerou o próprio
corpo, as esposas, os filhos, os amigos, o exército,
seu rico tesouro, seus palácios confortáveis
e os tantos prazeres agradáveis que podia experimentar
como sendo apenas criações da energia
ilusória, e retirou-se para a floresta no Himalaia
conhecida como Badarikasrama.
Badarikasrama
é uma região sagrada onde vivem personalidades
santas e iluminadas que alcançaram estados de
consciência puros e estáticos. Localizada
nas encostas dos picos nevados do Himalaia ao norte
da Índia, a região conta com vales e bosques
por onde correm rios cascateantes de águas cristalinas.
Ao
chegar à região, Dhruva purificou completamente
seus sentidos banhando-se regularmente nas águas
purificadas e límpidas. Sentou-se imóvel
e, através da prática iogue, controlou
a respiração do ar vital. Por meio desse
processo, seus sentidos foram completamente removidos
dos objetos de sua percepção. Logo, ele
concentrou sua mente sem desvios na forma da Deidade
do Senhor. A Deidade é uma réplica exata
da forma transcendental da Personalidade de Deus. Ao
meditar nEle, Dhruva entrou em transe completo.
Devido
à felicidades transcendental que sentia, lágrimas
incessantes fluíram de seus olhos, sentiu o coração
derreter e um arrepio tomar conta de seu corpo deixando
seus cabelo de pé.
Transformado
pelo transe do serviço em devoção,
Dhruva Maharaj esqueceu-se completamente de sua existência
no corpo e sua alma foi imediatamente liberta da escravidão
à matéria.
Logo
que os sintomas de sua liberação se manifestaram,
ele viu uma nave refulgente e extraordinária
descendo dos céus. Era como se a lua cheia brilhante
estivesse descendo diante dele e iluminando todas as
direções.
Dhruva
viu dois associados do Senhor Vishnu desembarcarem.
Eles tinham quatro braços e um lustre corpóreo
cinza-azulado. Eram muito jovens, e seus olhos pareciam
pétalas da lótus avermelhada. Traziam
maças de ouro entalhadas em suas mãos.
Vestiam roupas de seda elegantes. Traziam elmos de pedras
preciosas sobre a cabeça de longos cabelos pretos
que ondulavam ao vento e seus colares, pulseiras e brincos
refulgiam refletindo raios de luzes coloridas.
Dhruva
Maharaj percebeu que essas personalidades incomuns eram
servos diretos da Personalidade Suprema de Deus e levantou-se
imediatamente. Mas estava confuso diane da visão
e, em sua precipitação, esqueceu-se de
recepcioná-los de modo apropriado, e ofereceu-lhes
reverências simples com as mãos em prece,
cantando e glorificando os santos nomes do Senhor.
Dhruva
estava sempre absorto pensando nos pés de lótus
do Senhor Krishna com o coração preenchido
por Deus. Quando os dois servos confidenciais do Senhor
Supremo, Nanda e Sunanda, aproximaram-se sorrindo contentes,
Dhruva mantinha ainda as mãos juntas, enquanto
se curvava humildemente.
Nanda
e Sunanda disseram:
"Querido
Rei, receba toda boa fortuna. Ouça atentamente
o que diremos. Com cinco anos de idade, você realizou
austeridades severas, e assim satisfez a Personalidade
Suprema de Deus. Somos representantes desse Deus Supremo
tão seu conhecido. Ele é o criador de
todo o universo. Ele nos pediu pessoalmente que viéssemos
para conduzi-lo ao mundo espiritual. É difícil
uma pessoa alcançar a morada de Vishnu. Devido
a suas austeridades, você conquistou esse direito.
Nem os grandes sábios santos, nem os semideuses
são capazes de alcançar essa posição.
Apenas para poder ver a morada suprema, o planeta de
Vishnu, o sol, a lua e todos os demais planetas, estrelas,
mansões lunares e sistemas planetários
circundam esse planeta. Agora, venha conosco… você
é bem-vindo lá. Querido Rei Dhruva, saiba
que nenhuma outra pessoa antes de você alcançou
esse planeta transcendental. O planeta que é
conhecido pelo nome de Vaikuntha, é a residência
pessoal do Senhor Vishnu, sendo o mais elevado de todos.
É adorado pelos habitantes dos demais planetas
dentro do universo. Por favor, venha conosco e viva
lá eternamente. Ó imortal, esta nave sem
igual foi enviada pela Personalidade Suprema de Deus,
quem é adorado através de preces seletas
e é o chefe de todas as entidades vivas. Você
merece subir a bordo desta nave."
Dhruva
Maharaj era muito amado pela Personalidade Suprema de
Deus. Depois ouvir as palavras doces dos associados
do Senhor de Vaikuntha, ele tomou imediatamente seu
banho nas águas sagradas de Badarikashram, vestiu-se
apropriadamente e executou seus deveres espirituais
diários. Depois disso, ofereceu suas respeitosas
reverências aos grandes sábios e santos
presentes para sua despedida e aceitou suas bênçãos.
Antes
de ir a bordo da nave transcendental, Dhruva adorou
a nave, circundando-a, e também ofereceu reverências
aos associados de Vishnu. Enquanto fazia isso, foi ficando
tão brilhante e refulgente quanto o ouro derretido.
Depois disso, ele estava pronto para embarcar na nave
de Nanda e Sunanda.

Ao
tentar embarcar, ele percebeu que a morte personificada
se aproximava dele. Porém, nem se preocupou com
ela e aproveitou a oportunidade para pôr seus
pés sobre sua cabeça e pular para dentro
da nave, que era tão grande quanto uma casa.
Nesse
momento, tambores de várias sonoridades ressoaram
pelo céu. Os principais anjos Gandharvas começaram
a cantar suas odes e semideuses montados em suas naves
despejaram flores como torrentes de chuva sobre Dhruva
Maharaj.
Dhruva
já estava sentado na nave transcendental que
iniciava sua decolagem quando se lembrou de sua querida
mãe, a rainha Suniti. Ele pensou: "Como irei
só para o planeta Vaikuntha deixando minha pobre
mãe para trás?"
Nanda
e Sunanda puderam entender a mente de Dhruva Maharaj
e mostraram-lhe que Suniti entrava adiante em outra
nave.
Enquanto
atravessava o espaço cósmico, Dhruva viu
os planetas do sistema solar passarem progressivamente,
e, pelo caminho, viu os semideuses em suas naves que
continuavam despejando uma chuva de flores sobre ele.
Ele
se viu atravessando os sete sistemas planetários
dos grandes sábios e, depois de deixar essa região
para trás, chegou à região transcendental
de vida eterna no planeta do Senhor Vishnu.
Como
já disse, a nave era pilotada pelos dois principais
associados do Senhor Vishnu, Sunanda e Nanda. Somente
tais astronautas espirituais são capazes de pilotar
sua nave para além dos sete planetas e chegar
à região de vida eterna e bem-aventurada.

Krishna
também confirma no Bhagavad-gita que,
além destes sistemas planetários materiais
físicos e sutis, começa o céu espiritual
onde a existência é eterna e feliz.. Os
planetas daquele céu espiritual são conhecidos
como Vaikuntha. Somente nesses planetas Vaikuntha a
pessoa pode obter uma vida de felicidade eterna e conhecimento
pleno.
Abaixo
dos planetas Vaikuntha encontra-se o universo material
onde Brahma e todos os habitantes de seu planeta Brahmaloka
podem viver até a aniquilação final
deste universo. Mas a vida nos planetas materiais não
é permanente. Isso também é confirmado
por Krishna no Bhagavad-gita. Mesmo que viva
no planeta mais elevado deste universo material, a pessoa
não poderá alcançar uma existência
eterna. Somente ao chegar a Vaikuntha poderá
obter uma existência de felicidade eterna e iluminação.
Os
planetas Vaikuntha são auto-refulgentes e sua
refulgência se reflete nas estrelas deste mundo
material; não podem ser alcançados por
aqueles que não mostrarem misericórdia
a todas as demais entidades vivas. Somente aqueles que
se ocupam sempre do bem-estar de outros seres vivos
podem chegar aos planetas Vaikuntha.
Pessoas
pacíficas, equilibradas, limpas, puras e que
conhecem a arte de agradar às demais entidades
vivas, mantêm amizade com os devotos do Senhor.
Só elas podem facilmente obter a perfeição
de retornar ao lar, de volta a Deus.
Foi
assim que o filho exaltado de Uttanapada, Dhruva Maharaj,
por ter se tornado completamente consciente de Krishna,
atingiu o mais elevado planeta de todas as galáxias
do universo.
Igual
a um rebanho que circunda um poste central movendo-se
no sentido horário, todas as estrelas no céu
universal incessantemente circundam a morada de Dhruva
Maharaj com grande força e velocidade.
Depois
de testemunhar as glórias de Dhruva, o grande
sábio Narada foi para a arena de sacrifícios
dos Prachetas e, enquanto tocava sua vina em êxtase,
cantou a seguinte canção:
"Pela
simples influência
de seu avanço espiritual
e dura austeridade sem igual,
Dhruva Maharaj, o filho de Suniti
entregue ao esposo imperador,
fez-se assim tão exaltado
que nem o mais sábio conhecedor
de todo livro sagrado
nem os estritos praticantes
de todos os princípios e rituais iluminantes,
sem falar dos meros mortais encarnados,
jamais poderão lá chegar.
"Vejam
só como Dhruva,
triste com as palavras da madrasta,
foi para a floresta
com apenas cinco anos,
e sob minha orientação
ocupou-se na execução
de austeridades.
Embora
Deus seja inconquistável,
Dhruva Maharaj derrotou-O
com seu coração amorável
visto nos devotos do Senhor.
"Seis
meses de austeridade
e cinco ou seis anos de idade
deram a Dhruva tão exaltada posição.
Ai, mesmo um grande guerreiro
não pode tolerar tal situação
sequer depois de sofrer penitência
por muitos e tanto anos de existência."
Maitreya
Rishi, o grande sábio e santo contou desse modo
a famosa história a respeito da grande reputação
e do caráter de Dhruva Maharaj. Os exaltados
santos devotos apreciam ouvir a história da vida
de Dhruva.
Por
tê-la ouvido, uma pessoa é capaz de satisfazer
seus desejos de riqueza, reputação e aumentar
a duração de sua vida.
É
tão auspicioso ouvi-la que, somente por falar
dele, a pessoa pode ser levada a um planeta celestial
ou pode atingir o planeta onde Dhruva mora eternamente
com o próprio Senhor Supremo.
Os
semideuses também ficam satisfeitos de ouvi-la,
pois esta narração é tão
gloriosa e tão poderosa que é capaz de
funcionar como um antídoto para a reação
das ações pecaminosas do carma de cada
um.
Qualquer
pessoa que ouvir a história de Dhruva Maharaj
e repetidamente tentar com fé e devoção
entender seu caráter puro, atingirá a
pura plataforma devocional e executará serviço
em devoção pura ao Senhor Supremo em Pessoa.
Por meio de tais atividades, a pessoa poderá
diminuir as condições miseráveis
triplas da existência material.
Qualquer
pessoa que ouvir esta história da vida de Dhruva
Maharaj verá que as qualidades exaltadas de Dhruva
se manifestarão em seu próprio carater.
Qualquer
pessoa que desejar grandeza, coragem ou influência,
deve saber que este é o processo para adquiri-las.
E para as pessoas pensativas que desejam adorar a Deus,
eis os meios apropriados para obter suas metas.
A
pessoa deveria cantar sobre o caráter e as atividades
de Dhruva Maharaj tanto pela manhã como pela
noite, com grande atenção e cuidado, na
associação de verdadeiros brâmanes,
ou seja de pessoas que nasceram duas vezes. A pessoa
nasce pela primeira vez num corpo físico por
meio de um pai e de uma mãe. Pela graça
do mestre espiritual, ela nasce pela segunda vez em
seu corpo espiritual.
Aqueles
que se abrigaram completamente nos pés de lótus
do Senhor deveriam recitar esta história da vida
de Dhruva Maharaj sem fins lucrativos.
Recomenda-se
a leitura desta história durante a lua cheia
ou na lua nova, um dia depois do Ekadasi (o décimo
primeiro dia depois da lua cheia e depois da lua nova,
dias muito auspiciosos para a prática do jejum,
da meditação e da devoção),
ao final do mês, ou num domingo. Tal recitação
deveria ser executada, é claro, diante de um
público favorável. Quando a recitação
é executada dessa forma, sem qualquer motivo
profissional, tanto o recitador como a audiência
tornam-se perfeitos.
A
história de Dhruva Maharaj consiste do conhecimento
mais sublime e que permite a qualquer pessoa alcançar
a imortalidade.
Aqueles
que são inconscientes da Verdade Absoluta podem
ser conduzidos ao caminho da verdade.
Aqueles
que, devido à sua bondade transcendental, aceitam
a responsabilidade de tornar-se mestres-protetores das
pobres entidades vivas despertam automaticamente o interesse
e as bênçãos dos semideuses.
As
atividades transcendentais de Dhruva Maharaj são
famosas em todo o universo e são certamente muito
puras. Em sua infância, Dhruva Maharaj rejeitou
todos os tipos de brinquedos e brincadeiras, deixou
a proteção da mãe e seriamente
abrigou-se na Personalidade Suprema de Deus, Krishna.
Concluo
esta narração pois a descrevi em todos
seus detalhes.
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